Escrita criativa
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Como Criar uma Conexão Emocional Entre Leitor e Personagem

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Mensagem  Admin Seg Set 17, 2012 9:18 pm

O principal motivo que leva o leitor a derramar lágrimas com o que lê é o seu vínculo com o personagem. Como criar este vínculo? Como fazer com que o leitor "apaixone-se" e fique completamente envolvido com o personagem a ponto de "sentir" as consequências do que acontece na história? é sobre isso que vamos falar um pouco hoje.

Seu principal objetivo como escritor é colocar o leitor na pele do personagem. O leitor precisa tornar-se o personagem que detém o ponto de vista - POV (falamos sobre este assunto nas dicas 3 e 4). Para que isso funcione, você terá que levar o leitor para dentro da mente do personagem. Mostre quais são os medos, as crenças, os objetivos e o passado do personagem. Só tome cuidado para não exagerar, apenas algumas dicas são suficientes. Deixe que eles conheçam um ao outro, fiquem íntimos e sejam cúmplices nas decisões.

Nós somos seres emocionais e reagimos aos acontecimentos desta forma. Se você quer causar impacto ao descrever uma cena de terrorismo, por exemplo, ao invés de mostrar a explosão e um monte de corpos mutilados logo de cara, mostre primeiro as vítimas felizes antes do atentado. Isto irá criar uma conexão emocional com o leitor e fará com que ele fique realmente sentido com a morte daquelas pessoas. Para demonstrar a diferença na prática, vamos analisar dois textos e compará-los quanto ao grau de envolvimento emocional leitor X personagens:

1. Janaína brincava na calçada com sua bola de borracha. A brincadeira consistia em arremessar contra um muro de concreto e tentar agarrar o objeto arisco que mudava completamente de trajetória a cada vez que tocava em alguma superfície. No quarto arremesso, a pequena esfera azul passou por cima da cabeça da criança que, instintivamente, virou o corpo e correu para o meio da rua. O barulho estridente de uma freada precedeu o baque surdo e sombrio. A bolinha bateu no meio-fio e voltou, parando ao lado do corpo inerte da menina.

2. Desde a morte de Catarina, Marcelo mudara seus hábitos. Ele chegava todos os dias antes das seis e não fazia mais horas extras nos finais de semana. Estava decidido a criar Daniela como um pai presente e responsável. A mudança não foi nada fácil. Acostumado a passar dias e noites em operações policiais perigosas, ainda tentava se adaptar à monotonia do serviço burocrático da delegacia.

De manhã, antes de sair para o trabalho, Marcelo passava no quarto de Daniela e ficava, pelo menos, cinco minutos acariciando os cabelos dourados e cacheados da filha. Nossa, como o tempo passava rápido. Outro dia era apenas um bebê e agora estava para completar cinco anos. Já falava coisas incríveis, parecia mais inteligente que muitos adultos que conhecia.

Depois que a babá ia embora e os dois ficavam a sós, eles sentavam-se à mesa para jantar. Este era um dos maiores prazeres do pai coruja. Daniela conversava sobre o que havia acontecido naquele dia na escola e contava das dificuldades da babá em dar banho no seu cachorro. Eles riam e se divertiam. Apesar de sentirem a falta de Catarina, eram felizes, pois sabiam que era assim que a mãe desejaria que fosse.

Naquela noite, porém, ele sentiu seu coração bater mais forte quando abriu a porta da sala. Daniela não veio a seu encontro como sempre fazia. A casa estava silenciosa e ele sabia que havia alguma coisa errada. Correu para o quarto da filha, mas não a encontrou. Gritou pelo seu nome, mas não obteve resposta. Ao entrar no banheiro, viu Joice, a babá, com as mãos e pés amarrados e com os lábios tapados. Ele sentiu um calafrio. Cuidadosamente removeu a fita que impedia Joice de falar.

- Eles a levaram, Dr. Marcelo, eles a levaram, - disse Joice, com lágrimas correndo pelo rosto e a voz embargada.

- Quem a levou, Joice?

Antes que a babá pudesse responder, o celular de Marcelo tocou. Ele pegou o aparelho e quase o deixou cair.

- Alô?
- Dr. Marcelo, quanto prazer em falar com o senhor, - disse a voz forte do outro lado da linha.
- Desculpe, mas não-
- Sua filhinha é uma graça, está aqui ao meu lado, chorando.

Gotas de suor brotavam da testa de Marcelo.
- Quem é você, o que está fazendo com minha filha?
- Agora, doutor, finalmente terei minha vingança.

Ele ainda pôde ouvir Daniela gritando, antes de perder a ligação.

Se você analisar o primeiro texto, verá que trata-se de uma tragédia. Uma criança vai para o meio da rua e é atropelada. Você se emocionou? Pouco provável. Talvez tenha ficado um pouco chocado, afinal uma criança atropelada não é uma coisa muito fácil de se assimilar. E no segundo texto, alguma emoção? Garanto que, no mínimo, você sentiu seu coração apertado quando Marcelo ficou sem a filha. Repare que neste caso, existe até a possibilidade de não acontecer nada com Daniela e os dois voltarem a ficar juntos sem maiores consequências. A diferença aqui é que você "conheceu" um pouco mais Daniela e estabeleceu um relacionamento emocional com Marcelo. O que está se passando com ele afeta você diretamente.

A melhor maneira de criar personagens com quem seus leitores se importem é você, como autor, entrar no personagem e viver as situações. Coloque-se no lugar do personagem quando ele estiver em uma situação de perigo. O que ele sente? O que ele vê? O que ele pensa? Fazendo isso você irá criar personagens mais humanos e reais, dando à eles a credibilidade necessária para que seus leitores estabeleçam um relacionamento. é isso que torna a leitura de um livro agradável, afinal, você não está sempre querendo saber o que acontece na vida de seus amigos? Pois então, faça o leitor ser o melhor amigo dos seus personagens!
Julio Rocha

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