Escrita criativa
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Mensagem  Admin Seg Set 17, 2012 9:35 pm

Se você der uma olhada no que eu disse sobre editoras comerciais, verá que abordá-las é como ir a um banco pedir um empréstimo. Todo banco precisa emprestar dinheiro, assim como toda editora comercial precisa encontrar bons autores inéditos. Acontece que, como há muita gente sem garantias pedindo empréstimo, também são muitos os autores apresentando obras impossíveis. Por isso, contam a calma, a boa educação e as expectativas realistas de sua parte.

Linha editorial adequada

Como já disse, a enorme maioria dos originais que chegam a uma editora não têm nada a ver com a linha editorial da casa.
O que é linha editorial?
Linha editorial são os assuntos – ou gêneros literários – que a editora costuma publicar, e também a abordagem dentro dos assuntos. Se você for a uma grande livraria, verá que habitualmente os livros são divididos em algumas categorias, como história, auto-ajuda, romances, marketing etc. Uma livraria como a Cultura de São Paulo tem mais de cem divisões principais, fora as subdivisões. Essas podem ser consideradas linhas de publicações praticadas pelo mercado.
Dentro de uma mesma área, como por exemplo sociologia, você encontra várias tendências: historiográficas, antropológicas, de esquerda, de direita, pró-Estados Unidos, pró-França e por aí vai. Se você quer ter alguma chance de ser considerado por uma editora, precisa encontrar uma que publique o gênero dentro do qual a sua obra se encaixa, inclusive com o mesmo enfoque que você deu.
Nessa seleção, você precisa ter muita frieza. As editoras não têm interesse em adequar as suas linhas a você, é você quem precisa se adequar a elas. Se a sua obra é “mais ou menos” parecida com as que uma casa publica, você vai ser recusado. Não adianta você levar sua autobiografia (sendo que você é um vendedor de carros aposentado) dizendo que ela tem um caráter histórico. As editoras de história vão todas recusar a sua obra, e apenas editoras que eventualmente publiquem autobiografias de pessoas não famosas poderão se interessar.
A maneira de saber o que as editoras publicam é indo até uma boa livraria e vendo o que foi lançado na sua área. Não adianta tampouco localizar editoras que nos anos setenta publicavam poesia, mas que agora se dedicam apenas à informática. Muitas vezes, as linhas editoriais são fruto das preferências de um editor específico, que pode se aposentar ou trocar de emprego. Verifique o que tem acontecido no mercado nos últimos dois anos.
Nunca -- nunca! -- mande uma carta dizendo “não conheço a sua editora, mas estou enviando minha obra”. A pessoa que seleciona os originais vai pensar que, se você não se deu ao trabalho de fazer uma simples pesquisa em uma livraria, com certeza não está apresentando uma obra adequada à linha editorial da casa.
Para que insultar uma empresa que você quer interessada em você?

Originais impressos, limpos e organizados

Apresentação conta. Quando for enviar seu material a uma editora, imprima ou fotocopie o seu original sem sujeiras ou áreas cinzentas ou letras apagadas. Evite também correções a mão. Por outro lado, não gaste seu dinheiro com encadernações luxuosas ou fotos de autor produzidas em estúdio. O necessário é enviar um material fácil de ler, não um livro acabado.
É completamente irrelevante fazer uma diagramação caprichada de sua obra, como se as páginas fossem ser impressas a partir dali. Os programas usados para a paginação profissional de livros são o PageMaker ou o QuarXpress, e tudo o que você faz no Word exceto o texto é perdido na transcrição. Fontes exóticas, cores, tabulações, recuos e outros recursos para embelezar as páginas devem ser evitados porque chegam a atrapalhar. Use apenas o que for necessário para diferenciar títulos de subtítulos e de aberturas de capítulo.
Não apresente idéias de capa ou de ilustrações internas. Enviar uma capa desenhada por um amigo dá a idéia de que você é um amador que não entende absolutamente nada de publicações. A capa é uma decisão editorial e de marketing importante, que envolve a imagem e o estilo da editora. A menos que você esteja apresentando o trabalho de um capista qualificado e experiente, sua sugestão irá apenas aborrecer o editor.
Faça uma revisão de seu texto. Apartes do tipo “essa obra não foi revisada, sei que a editora conta com ótimos profissionais“ não impressionam nada bem. Se você é tão incompetente com o Word que nem passar a revisão ortográfica consegue, não transmite a segurança de quem sabe sobre o que está escrevendo. Peça a um amigo ou a um revisor profissional para eliminar pelo menos os erros ortográficos mais gritantes, se isso está fora do seu alcance.
Numere as páginas de sua obra. Ela não precisa estar encadernada, mas se não estiver numerada, um acidente -- como deixá-la cair no chão -- pode tornar a leitura impossível.
Escreva o nome da obra, seu nome verdadeiro e de eventuais co-autores, seu endereço, e-mail e telefones de contato na primeira página. Muitas obras se perdem porque os autores colocam seus endereços apenas no envelope, e este se separa da obra ao ser enviado para leitura. Se quiser ser mesmo cauteloso, imprima seu nome e telefone no alto de todas as páginas, como um cabeço. O eventual uso de pseudônimos pode ser decidido depois, caso um contrato venha a ser negociado.
Acrescente apenas as ilustrações e gráficos que forem necessários à compreensão do texto, uma vez que é a editora que decide como diagramar seus livros. Se você precisar incluir imagens que não sejam suas, terá de citar a fonte completa ou, em caso de fotos, pedir permissão para a reprodução. Evite portanto se apropriar de material publicado em outros livros, visto que dá muito trabalho ficar obtendo permissão das editoras originais.

Carta de apresentação

Seu original deve ser acompanhado de uma carta simples e resumida de apresentação. Nela é ideal que você cite algumas coisas.
Comece com o nome do editor responsável pela área. Faça uma pesquisa e evite o genérico “Excelentíssimo senhor editor”, porque muitos editores são jovens sem qualquer afinidade com honoríficos, e mais da metade são mulheres! Melhor começar com “Prezada dona Sônia”.
Mencione o gênero de sua obra e a coleção em que ela se encaixa na editora, ou uma obra na mesma linha que aquela casa tenha publicado. Isso demonstra que você se deu ao trabalho de pesquisar o catálogo da editora e sabe o que ela publica.
Explique rapidamente o diferencial de sua obra em relação a outras no mercado. Não é bom você dizer que sua obra é parecida com a de um grande mestre porque o editor preferirá continuar publicando quem já é conhecido. É mais eficiente você dizer em que a sua obra é melhor, ou mais abrangente, ou mais atualizada que a do grande mestre, para que o editor se interesse em concorrer com a obra já famosa.
Se você escreveu uma obra de não-ficção, precisa mencionar suas qualificações como autor: se é professor, pesquisador, aficcionado pela área etc. Note que não adianta você ser um juiz renomado se está apresentando um livro sobre natação, nem querer publicar uma crítica ao sistema judiciário se você é professor de educação física. Você precisa demonstrar ao editor que entende do assunto sobre o qual está escrevendo.
Se tiver outras obras publicadas, mesmo que apenas artigos, mencione-as.
Recomendações de pessoas importantes contam, mas apenas as de profissionais da área sobre a qual o livro trata. Se seu livro é de culinária, colecione comentários de chefes e donos de ótimos restaurantes, e esqueça os de amigos e parentes. Se a sua mãe e os seus amigos não elogiarem você, quem irá fazê-lo?
Cuidado com as recomendações dúbias. Muita gente famosa evita fazer referências positivas a obras de amigos e conhecidos, optando por declarações simpáticas e vazias. Editores são mestres na leitura entrelinhas, e uma recomendação dessas pode acabar funcionando contra a sua publicação. Cite apenas quem fala muito bem de seu trabalho.
Caso você trabalhe em algum meio de comunicação poderoso, ou tenha acesso a muitos clientes, alunos ou outros possíveis compradores de seu livro, mencione isso rapidamente. Conquanto não seja suficiente para que sua obra seja publicada, pode ajudar na decisão caso haja dúvida sobre a editora arriscar em você ou não.
Em sua carta, evite adjetivos e comentários auto-elogiosos como “essa é a melhor obra que você já leu”, porque o editor prefere julgar por ele mesmo. Também passe longe de argumentos como “publique logo ou irá se arrepender”. Editores têm uma longa experiência de sucessos e fracassos e sabem que ninguém, mas ninguém mesmo, consegue garantir que uma obra será um sucesso. Já viram autores de muita vendagem lançar livros que acumulam poeira nos depósitos, assim como obras esquisitas de repente caírem nas graças do público.
Você querer ensinar a missa ao padre só aborrece, e desperta pensamentos do tipo “se você tem tanta certeza que sua obra será um sucesso, porque não pede um empréstimo ao banco e a publica você mesmo? Seria você quem ganharia todo esse dinheiro que diz que eu vou ganhar...”

Atitude profissional

Relembrando uma vez mais, quando você apresenta uma obra a uma editora comercial, está pedindo um empréstimo. Portanto, além de fazer um esforço para procurar uma editora que concorde com o conteúdo de sua obra, e apresentá-la o mais limpa e legível possível, você precisa respeitar o modo de funcionamento da editora.
Já fui visitada por muitos autores demandando que eu chegasse a uma decisão sobre a obra deles de uma semana para outra, porque iam viajar, ou queriam ser publicados antes do Natal, ou outra razão qualquer. É o equivalente a entrar no Banco do Brasil e querer quinhentos mil reais hoje, porque você precisa comprar um maquinário para a sua fábrica amanhã. Você acha esta uma tática eficiente para convencer com um gerente de banco?
Editoras têm uma maneira de funcionar. Seguem uma rotina para a apreciação de originais, e mesmo obras altamente interessantes requerem tempo para ser lidas e estudadas. Além disso, toda editora que se preze se programa para publicar um determinado número de livros por mês. Algumas são mais elásticas e até podem colocar um livro na frente de outro, mas é comum que tenham prioridades e prazos com outros autores a cumprir. Mesmo que queiram apressar loucamente uma publicação, não conseguem editar um livro decentemente antes de dois ou três meses depois da assinatura do contrato.
Portanto, entrar na sala de um editor exigindo decisões imediatas é o mesmo que pedir para ser recusado. Querer que as suas necessidades e conveniências sejam consideradas acima das da empresa é completamente irrealista. E pressionar um profissional atarefado para que atenda você em detrimento de suas outras atividades é de uma sensacional falta de tato, que em geral provoca apenas irritação. Se você não é presidente da República, nem da General Motors, nem dono do maior jornal do país, nem filho do dono de um grande canal de televisão, evite essas táticas invasivas e agressivas.
Respeite o tempo de resposta da editora. Ficar telefonando e pedindo uma decisão é cortejar uma resposta negativa. O profissional do outro lado às vezes não consegue tempo para avaliar originais, e a sua ansiedade de autor pode precipitar uma recusa para que simplesmente pare de incomodar. Se a sua obra tem a ver com a editora, em algum momento será avaliada.
Não queira um parecer sobre a qualidade de sua obra, a menos que você se disponha a pagar por uma leitura crítica e a editora ofereça esse serviço. Para que essa relação flua melhor e você sinta menos ansiedade, facilita entender que o editor não é um profissional pago para dar aulas ou explicações, mas sim para escolher obras que combinem com a linha da editora, rendam boas vendas e alto prestígio. Você só vale a pena em termos de investimento do tempo dessa pessoa se apresentar uma obra que seja quase ótima e precise de uns poucos ajustes para ser publicada. Se mandar algo que não tenha qualquer potencial de entrar no catálogo da editora, evidentemente o editor não quererá ficar explicando comos e porquês.
Imagine que precisa comprar uma geladeira. Você mediu sua cozinha e sabe que pode comprar uma de até um metro de largura, prefere uma branca, com congelador separado, de até setecentos litros. Você tem um preço máximo que pode pagar. Aí vai a uma loja e começa a olhar um modelo. Um vendedor ansioso mostra como ela abre, diz suas especificações e preço. Você fica avaliando e ele começa a insistir para você resolver, pois já está ali há meia hora. Não é irritante?
Você depois decide não comprar aquela geladeira, seja porque é vermelha, seja porque não gostou do tamanho, seja porque é cara demais. Agora imagine como seria estranho e cansativo se você tivesse de explicar ao vendedor exatamente porque não quer aquela geladeira e se ele, ainda por cima, ficasse ofendido e tivesse um ataque de ansiedade!
O editor tem todo o direito de recusar uma obra sem explicação. Lembre-se de que se trata de um negócio, conduzido por profissionais ocupados que tentam cumprir metas. Não há espaço para afagos ao ego, ataques de ansiedade e grandes sensibilidades nessa transação.

Envio de originais para várias editoras

É perfeitamente razoável que você envie uma cópia do seu original a todas as editoras que publiquem aquele assunto com o seu enfoque, assim você evita ficar aguardando a resposta de uma para consultar outra. Se fizer uma boa pesquisa, provavelmente você não irá levantar mais do que uma meia dúzia de concorrentes. É educado, no entanto, avisar as editoras caso uma delas aceite o seu original, para que interrompam o processo de avaliação.
Conselho amigo: só considere ter tido uma resposta positiva depois que assinar um contrato. Qualquer conversa antes é mera especulação, que pode evaporar de repente se o editor mudar de emprego, ficar doente ou grávida, se um bestseller inesperado naquela área aparecer no mercado ou qualquer outro acidente do gênero.
Às vezes você pode querer forçar uma resposta positiva de uma editora mais importante se já tiver sido aceito por uma editora comercial pequena. Tente, mas leve em conta o que eu já disse sobre a atitude mais adequada para se tratar com editores e refreie impulsos agressivos.
Outro conselho amigo: não minta. O mercado editorial brasileiro é pequeno, os profissionais se conhecem e costuma ser fácil verificar se determinada editora aceitou o seu original ou não, caso isso pareça improvável. O editor pode também ficar genuinamente contente que alguém vai publicar a sua obra e lhe desejar boa sorte, sem querer competir com a outra editora.

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